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Missão educativa

A. Discípulos de Madre Paula

.A.

DISCÍPULOS DE MADRE PAULA ELISABETE CERIOLI

 

 
1. A peculiar forma de evangelização do religioso da Sagrada Família é a missão educativa. Os religiosos da Sagrada Família são homens que, chamados pelo Espírito a consagrarem a própria vida a Deus e aos irmãos, vivem e testemunham o Evangelho da Cerioli tomando conta das crianças sem futuro e das suas famílias.
 
2. A Santa Paula Elisabete Cerioli é a fonte e a raiz que dá vida à educação Sagrada Família. Os tempos e as circunstâncias mudaram profundamente, mas a sua paixão educativa e a sua dinâmica espiritual de vida, ainda continuam hoje na experiência de fé dos religiosos da Sagrada Família e naqueles que seguem o seu ensinamento. Deus os chama a assumir, de forma autêntica e renovada, a sua mensagem de amor e de esperança e a difundí-la nos lugares onde são enviados.
 
 
Uma mulher, uma mãe, uma santa
3. Nascida em Soncino, de uma rica família nobre, Constância, é educada na fé pela mãe que na cidade era conhecida como “mãe da caridade” pela sua constante atenção para com os pobres. Depois de uma infância passada na casa natal, é mandada a estudar no renomado colégio das Visitandinas de Alzano Lombardo, próximo a Bergamo. Se dedica apaixonadamente aos estudos, mas por motivos de saúde, passa por difíceis e sofridos momentos.
4. Aos 16 anos volta para a família e os seus pais combinam seu matrimônio com um viúvo de Comonte (Bg), Gaetano Busecchi Tassis, de 59 anos. Casa-se em 1839 e vai morar na casa do marido em Comonte. Ela teve quatro filhos, três deles morrem recém nascidos, somente o filho Carlinhos consegue chegar a 16 anos, quando uma doença nos pulmões o leva à morte entre os braços acolhedores da própria mãe. Antes de morrer, na tentativa de consolar a mãe, lhe diz: “Não chores, mãe, Deus te dará muitos outros filhos”. Morre no dia 28 de janeiro de 1854. Em dezembro do mesmo ano vem a falecer também o marido Gaetano.
5. Inicia uma fase de discernimento profundo que, orientado pelas iluminadas figuras de Dom Esperança, bispo de Bérgamo e padre Alessandro Valsecchi, reitor do Colégio Santo Alessandro, onde estudou o filho Carlinhos, a levará a dedicar toda sua vida a Deus e aos pobres órfãos filhos dos camponeses.
6. Em 1856 começa a acolher algumas meninas na sua casa e cuidar delas. O ano seguinte decide de fundar uma instituição que tomasse conta das meninas mais necessitadas, e em 1858 funda o Instituto das Irmãs da Sagrada Família para que cuidassem da educação das Filhas de S. José.
7. Em 1863 realiza o seu grande sonho de abrir uma instituição que se ocupasse da educação dos meninos pobres órfãos. Funda ao mesmo tempo, a Congregação masculina dos “Padres e Irmãos da Sagrada Família”. Dois anos depois, no dia 24 de dezembro de 1865 morre. É beatificada no ano de 1950 e no dia 16 de maio de 2004 canonizada.
 
 
Uma educadora do seu tempo, profeta para o nosso tempo
8. A morte do filho Carlinhos constitui para a Cerioli o momento mais dramático e a chave de leitura de sua existência. Enquanto “perde sentido a vida” e é interrompida a sua agoniada maternidade, Deus lhe abre os horizontes para uma vida nova e uma maternidade renovada.
9. Tendo o Senhor em sua grande misericórdia me privado do meu único filho, a quem tinha apegado tanto o meu coração e os meus afetos, e na sua sempre admirável providência, preparado os acontecimentos, e ter determinado a minha vontade a tornar-me mãe de muitos outros filhos, órfãos de pais, e privados do necessário e também dos meios para educação civil e religiosa, inspirou-me a resolução de abrir a minha casa em Comonte, de oferecer os meus bens, os meus cuidados e atenções às órfãs pobres e miseráveis. O Senhor Pai sempre bom, favoreceu e abençoou minhas fadigas e as minhas intenções, de maneira que esta minha nova Família, já tão numerosa, protegida, e aprovada pelo senhor Dom. Ilustr. e Rev.: que deu também a estas filhas desde pouco tempo o belo título de Filhas de São José, promete de fazer surgir um novo Instituto no meio da sociedade, para vantagem principalmente da classe camponesa que entre tantas obras de beneficência pública é a mais esquecida. O estabelecimento, então, deste Instituto seria o motivo e o fim dos meus desejos e das minhas esperanças.
 
8. No difícil trabalho espiritual que trilha depois da morte do filho Carlinhos, a imagem que mais a ajuda a reler a sua experiência no cunho da fé, é a assimilação com Nossa Senhora das Dores. Também ela, como Maria, perdeu um filho de modo trágico, mas também ela por graça, como Maria, pode tornar-se novamente mãe de muitos filhos. Encontra assim a esperança de recomeçar a viver, de modo espiritual, seu anseio materno.
9. O ícone da Sagrada Família constitui para ela a referência imprescindível para todo educador da Sagrada Família. A partir da contemplação silenciosa e humilde dos “três personagens divinos”, o educador deve assimilar o estilo e as virtudes típicas que caracterizam a vida familiar em Nazaré.
10. A expressão concreta de sua maternidade a leva antes de tudo, a escolher aqueles que na vida tinham sido privados das relações com os pais, aqueles que tinham perdido o pai ou a mãe. Os órfãos se tornam os primeiros destinatários de sua missão. Entre eles escolherá os mais pobres, aqueles que mais necessitam experimentar o amor da vida, aqueles que são impedidos de habitar o mundo. Identificará estes pobres nos filhos dos camponeses.
11. As intuições e as linhas educativas expressas por Paula Elisabete se revestem, para os religiosos da Sagrada Família e para os leigos que colaboram com eles, de um caráter profético.
 
Continuamos a sua obra educadora
14. “Amemos estas pobres filhas, e estejamos para elas no lugar de Pai, Mãe, Irmãos que Deus lhes tirou, para nos colocar no seu lugar”. Dar continuidade à obra evangelizadora e carismática da Cerioli é, antes de mais nada, fazer a mesma experiência de fé e realizar a mesma passagem de uma maternidade física a uma maternidade espiritual. Trata-se de passar de uma generatividade física à uma espiritual. De assumir, na dimensão educativa, os traços de pais na sua raiz mais autêntico.
15. “O que fazeis ao último destes pequeninos, terei como feito a mim”. A consolação desta promessa de Jesus abre o coração de Madre Paula. Reconhecer como próprios filhos aqueles que Deus nos confia. É colocar-se na experiência da paternidade e maternidade de Deus que ama a cada homem, sobretudo quem é mais necessitado. Paula Elisabete se despe de seu “ciúme” materno para se tornar mãe de cada menino e menina que, privado da sua relação paterna e materna, busca na vida um “seio” onde continuar a crescer.
16. O titulo com o qual chama as suas meninas, “Filhas de S. José”, e sucessivamente os meninos, “Filhos de S. José”, retoma o papel paterno protetor do pai adotivo de Jesus. Guia seguro, pai atencioso, trabalhador incansável, homem justo e de fé, são as características que contra distinguem a proximidade de José ao Filho Jesus e, por graça, a cada menino e menina da Sagrada Família.
17. Os religiosos da Sagrada Família, com a sua evangelização, são chamados a anunciar e mediar ao povo a salvífica paternidade-maternidade de Deus que, através do seu Filho Jesus e do Espírito Santo, quer ser companhia, apóio, orientação, e defesa de cada homem e de todas as pessoas, especialmente daqueles que estão ameaçados e impossibilitados de terem relacionamentos afetivos e promovedores, e estão condenados a não perceberem nunca um futuro de esperança e de vida e a sentirem-se constrangidos na solidão e no abandono de um presente sem saída.
18. O religioso da Sagrada Família anuncia e evangeliza através da educação. Educar é propiciar junto a consciência do outro (meninos, adolescentes, jovens, todos) que a vida é assim bela que vale a pena de ser vivida e gastada por um ideal. A nossa Fundadora, a Santa Paula Elisabete, considera o educar como uma 'segunda criação'. Nos solicita assim a lembrar-nos o caráter generativo (um segundo nascimento) e o perfil religioso (a criação de Deus) de todo relacionamento.
19. A educação cerioliana para todos e para quem não tem futuro (atenção para com os pobres através da educação) é o núcleo central do carisma e como tal, marca toda a ação pastoral Sagrada Família. Ele, todavia, se determina em várias modalidades: os centros educativos, as paróquias, a solidariedade, a adoção a distância, ect... todas estas modalidades têm a mesma dignidade, mas não estão no mesmo nível. O socorro educativo para quem está sem futuro no sentido complexivo nunca poderá ser perdido de vista.
 
O nosso carisma
20. O religioso da Sagrada Família é um consagrado, isto é, um cristão que escolheu - sendo surpreendido - de fazer voto da sua vida ao Jesus que a Cerioli escolheu, amou e tornou conhecido ao seu povo.
21. Na raiz da experiência de fé da fundadora está o tornar-se evangelicamente pobre e partilhar a vida dos pobres para socorrê-los com a caridade.
22. O coração mais íntimo do carisma é representado pela confiança na paternidade de Deus e no fazer-se pai, por parte do consagrado Sagrada Família, para quem não tem espaço para habitar o mundo e não tem futuro.
23. O coração carismático Sagrada Família impõe a assimilação e difusão do evangelho da pobreza, simplicidade e humildade socorrendo e educando os pequenos abandonados, que para a Fundadora eram os camponeses.
24. Uma outra exigência iniludível representada pelo carisma é aquela de exprimir um testemunho carismático em união de intentos com as irmãs da Sagrada Família.
25. Segundo a experiência da própria Fundadora o religioso da Sagrada Família vive a sua experiência de fé a partir do mistério da Sagrada Família de Jesus, José e Maria: celebra, reza, escuta e medita a palavra de Deus a partir deste mistério.
26. O religioso da Sagrada Família vive a sua experiência de adulto na fé desenvolvendo as virtudes da simplicidade, da pobreza, da humildade, da laboriosidade, do espírito de família (cf. Constituições 6).
27. O religiosos da Sagrada Família vive a vida comunitária, que a Fundadora considera ‘pequena família’ ou ‘ pequena sociedade’ (Escritos de Fundação, 133,7),como irmão dos outros, do mesmo modo como a Fundadora considerava irmãs as suas primeiras companheiras; irmãs entre elas e irmãs dos ‘divinos personagens’: Jesus, José e Maria. Na vida comunitária difunde estima e confiança, se orgulha por aquilo que é e vive o seu irmão como dom para a comunhão e a edificação do reino.
28. O religioso da Sagrada Família se esforça constantemente para se tornar obediente e confidente ao seu superior local, porque assim, a Fundadora considerava que devia ser a tarefa da superiora: como aquela que institui uma relação personalizada, cuidando particularmente das suas irmãs.
29. O religioso da Sagrada Família tem os olhos abertos para todo homem e toda mulher que encontra na própria vida, sobretudo, tem um olhar de predileção para os pequenos e os mais pobres que precisam de uma particular ajuda. As obras da Congregação: os Colégios, a Escola, as Paróquias, os Centros juvenis, a missão ad gentes querem ser expressões desta ajuda.

 

B. Dar futuro

.B.      

DAR FUTURO A TODO MUNDO:

ENTRE OS MAIS ABANDONADOS

 

A opção preferencial pelos pobres
30.     Madre Paula Elisabete viveu com as meninas e os meninos do seu tempo, os amou profundamente e dedicou lhes todas as suas energias. Como seus discípulos, também nós devemos experimentar a mesma alegria na partilha do nosso tempo e das nossas energias com eles. Fazemos reviver a sua paixão educativa, o seu desejo de ajudá-los doando-nos completamente a eles.
31.     Como Madre Cerioli se preocupava com os meninos mais pobres e abandonados da sociedade em que vivia, assim também nós, religiosos da Sagrada Família escolhemos os mais excluídos da sociedade, os últimos, aqueles que não tem futuro e são impedidos de habitar o mundo. Aqueles que por causa de todo tipo de pobreza não têm acesso a uma vida digna, são privados da assistência médica, não têm a oportunidade de uma educação e de uma instrução digna.
32.     Reconhecemos no assumir a paternidade e maternidade espiritual destes últimos do mundo a missão específica da Congregação da Sagrada Família. Isso não impede de acolhê-los nas nossas estruturas educativas ou até mesmo de chegar a ter escolas propositalmente dedicadas às crianças e meninos que não estão em condições de pobreza. A convivência serena e de mútua solidariedade constitui um elemento enriquecedor da proposta educativa.
 
Temores e esperanças dos desafios de hoje
33.     A fidelidade ao carisma exige uma leitura constante e cuidadosa das influências que a cultura de hoje tem sobre a formação da consciência dos jovens e suas famílias.
34.     Em particular o mundo de hoje parece ser caracterizado pelos seguintes desafios: uma interdependência mundial, uma sociedade pluralista, a secularização e o uso de novas tecnologias. Estas mudanças abrem horizontes muito amplos que, mesmo no meio de contradições e ambigüidades, oferecem sinais de esperança para as novas gerações.
35.     Algumas dessas tendências são uma ameaça forte para o crescimento dos jovens: o ritmo acelerado da vida, a cultura do individualismo, o consumismo, a fragilidade da família e a insegurança de postos de trabalho. Assim como o crescimento da desigualdade entre ricos e pobres, a discriminação, o crescimento da violência nas cidades, o uso da droga, a perca da moralidade e dos valores.
36.     Existem também sinais de esperança que devem ser lidos e desenvolvidos: uma constante consciência dos direitos humanos, e nisso também dos direitos dos menores, o esforço para possibilitar a todos uma educação digna, o estimulo rumo a uma democratização dos países. A comunicação que permite conhecer o que está acontecendo no mundo inteiro. Um constante avanço de uma cultura em defesa da vida e do ambiente, o empenho para construir a paz e a luta contra as injustiças. O desejo dos pobres de desenvolver-se autonomamente e vencer as estruturas opressivas, a solidariedade entre os povos.
37.     Somente através do contato habitual com as crianças e os jovens, podemos chegar a apreciar seu idealismo e sua necessidade de fazer parte de um grupo que os motiva e lhes dá identidade. Sabemos como, nos seus melhores momentos, são alegres, entusiasmados e sinceros, estão dispostos a confiar-se em alguém, a colaborar ativamente e a exprimir um grande desejo de vida.
38.     Percebemos seu profundo senso de justiça, o seu desejo de um mundo mais atento às pessoas e as formas espirituais. Sentimos seus gritos para sejam reconhecidos os direitos de todos, o respeito, a qualidade da educação, a esperança e a autenticidade de um sentido na vida. Sentimos os seus olhares sobre nós, que nos convidam a uma credibilidade do nosso ser adultos.
39.   Nós acreditamos nas crianças e nos jovens, acreditamos nas famílias. Estamos convencidos de que os recursos e as potencialidades de um lado e do outro são um material precioso para nós. Eles, como dizia Santa Paula Elisabete Cerioli, são os nossos tesouros.
 
 
Os filhos impedidos de habitar o mundo
40.     Mas a dura realidade em que vivem muitas crianças e as suas famílias nos interpela pessoalmente, como Congregação e como leigos, a crescer espiritualmente para poder dar uma resposta mais audaciosa e decisiva, fiel ao Evangelho a ao carisma de Santa Paula Elisabete Cerioli.
41.     Devemos abrir os nossos olhos e os nossos corações para compreender o profundo sofrimento das crianças e de suas famílias, e assim começaremos a compartilhar a paixão de Deus para com o mundo. A nossa fé nos faz encontrar neles o rosto de Jesus.
42.     Mesmo nos nossos limites, ou talvez através deles, aparece a misericordiosa proximidade de Deus  a cada homem. A ação educativa aparece, portanto, marcada por uma fragilidade que longe de denunciar a sua impraticabilidade evidencia a sua origem: Deus, o Pai é aquele que educa com o seu amor cada homem. O caráter solidário que caracteriza o impulso do educador da Sagrada Família para com os filhos impedidos de habitar o mundo é o anuncio de tal paternidade.
 
A educação: uma resposta cristã
43.     A solidariedade é a postura que nos faz sentir todos irmãos, filhos do único Pai. É nesta filiação que advertimos o chamado para darmos uma atenção privilegiada a quem perdeu sua dignidade de filho. Às crianças pobres, sozinhas, impedidas de habitar o mundo a às suas famílias incapazes de oferecer um futuro promissor, se abre a nossa caridosa atenção.
44.     Uma atenção feita de cuidados diante das necessidades primárias, mas sobretudo voltada em favorecer um futuro promissor por cada um deles e suas famílias.
45.     A educação é a nossa solidariedade, o socorro mais promovedor diante destas crianças.
46.     O empenho para a transformação da realidade educativa, das escolas, das creches, dos centros sociais nos contextos educativos verdadeiros e próprios, onde a dimensão da familiaridade junto àquela da instrução possam oferecer um contexto promissor para cada criança.

 

 

D. O estilo do educador SF

.D.       

MESTRAS, MADRES E AMIGAS:

  O ESTILO DO EDUCADOR SAGRADA FAMÍLIA

 

 

60.     “Levantais e as elevais suavemente a Deus, representando-o a elas bom, Santo, misericordioso, liberal e não contristais seus corações, não empobreçais sua inteligência, pregando-o a cada momento se é verdadeiro, terrível, sempre pronto a punir e a castigar por cada pequena falha. Eu gostaria que as Irmãs da Sagrada Família e também as Filhas de São José, amassem, temessem, servissem, referissem a Deus, somente por amor, por reconhecimento, por gratidão, porque ele é Pai, criador, benfeitor: nunca, nunca por simples temor servil”.

61.     O anuncio da paternidade/maternidade de Deus para cada homem é um dos centros do carisma Sagrada Família. A imagem da paternidade espiritual é a síntese da reflexão espiritual da fundadora, a Santa Paula Elisabete Cerioli. Ela não constitui somente a referência para uma ação educativa, mas descreve todo o estilo do apostolado “Sagrada Família”. No âmbito educativo a atenção à paternidade espiritual exprime antes de mais nada a origem de todo empenho educativo. Reenvia à paternidade de Deus da qual toda paternidade tem origem, assim cada cuidado educativo, para o cristão e com maior razão, para o discípulo de Paula Elisabete Cerioli, recebe sua fundamentação. No educador-professor Sagrada Família, o educando deve estar na altura de encontrar os traços da paternidade de Deus, de sua benevolência, de sua misericórdia, de sua justiça.

 

 

Cuidadosa guarda

62.     “Participemos possivelmente às suas recreações e aos seus divertimentos, onde se conquista seus corações e a sua confiança.

63.     Os religiosos da Sagrada Família educam, sobretudo, sendo uma presença viva no meio das crianças e dos jovens. A presença é a forma mais alta para manifestar o amor para com eles, para comunicar a misericordiosa paixão que Deus tem para o homem. A presença é antes de mais nada um gesto de amor, como o de um pai ou de uma mãe, como o de um irmão e amigo.

64.     Para conhecer as crianças e os jovens è importante estar com elas, partilhar as suas preocupações, entrar nos seus discursos, oferecer nossa escuta, estar perto nas dificuldades. A presença educa também através do silencioso exemplo, da mansidão, da doçura.

65.     A presença que sugere a fundadora, é como a do Anjo da Guarda: vigilante, atento, cuidadoso, nunca invasivo. É um socorro oferecido para o crescimento, uma presença paterna e materna que orienta, uma fraternidade que acompanha.

66.     É uma presença preventiva que faz do conselho e do benévolo cuidado o instrumento para prevenir qualquer tipo de desvio.

 

 

Persuasão e amor

67.     “Armemo-nos de grande caridade, paciência e prudência e procuremos que nos obedeçam por amor, que nos respeitem pela estima que lhe inspira, os nossos exemplos e a nossa conduta e que façam e empreendam qualquer coisa através da persuasão, mas nunca, nunca por temor, necessidade, ou sugestão.

68.     A persuasão, para Paula Elisabete Cerioli, é um dos traços fundamentais do educador da Sagrada Família. A persuasão é a capacidade de levar o outro a fazer uma coisa mas, com doçura, sem constrangimento, sem violar e negligenciar sua liberdade.

69.     O estilo do educador Sagrada Família deverá portanto, ser caracterizado por uma maneira doce com que se aproxima do educando, do gesto compassivo de quem acolhe e perdoa, da firmeza de quem quer ajudar o outro a abrir o próprio coração e a própria mente, do esforço para assumir a perspectiva do outro.

 

 

Espírito de Família

70.     “Elas tem vocês como mães, e serieis cruéis se não as instruísseis, como amigas e serieis indignas se não abrísseis seu coração ao amor e à confiança”.

71.     A oferta formativa dos centros educacionais da Sagrada Família caracteriza também pelo espírito de família que neles se respira. Cultivar e fazer crescer uma dinâmica relacional fundada sobre relacionamentos familiares quer dizer, tornar credível a tarefa contida nas figuras institucionais.

72.     O educador da Sagrada Família também, reconhecendo a importância e a essencialidade, para o funcionamento de uma organização social, da clareza e da distinção dos respectivos cargos e, longe de cultivar uma forma decadente de tais figuras, trabalha para tornar mais transparente o elemento relacional que nele subjaz. Seja no relacionamento com os colegas seja, de modo particular, no relacionamento com as crianças, manifesta os traços mais altos da paternidade a da maternidade espiritual e promove um clima profundamente familiar.

73.     A família é o contexto mais adequado para o crescimento de uma pessoa, é o ambiente natural onde construir sãos relacionamentos, abrir o coração e a mente à realidade, preparar-se para tornar-se protagonista no mundo.

74.     A família é a casa da cultura, é o lugar de transmissão dos elementos simbólicos que compõem a cultura e o filtro através o qual uma pessoa lê e interpreta o mundo. As dinâmicas relacionais típicas da família são os instrumentos através dos quais a criança aprende a relacionar-se com o mundo inteiro. A necessidade de sentirem-se acolhidos e de ensinar a dar um nome á realidade, abre  a possibilidade de toda aprendizagem.

75.     O caráter materno que a escola deve exercitar evoca o cuidado, a atenção diante das crianças. Só quem é amado está na condição de poder amar. Como uma mãe ama o filho para que nele possa enraizar-se a confiança para com os outros, assim a escola deve amar a cada aluno para que nele possa desabrochar a confiança pelo mundo inteiro.

76.     O caráter paterno que a escola deve exercitar evoca o sentido de uma ordem, de uma legalidade, de uma transparência que pode oferecer um futuro e uma esperança às crianças. Como um pai ajuda um filho a passar do seu pequeno mundo auto-centrado à um mundo de relacionamentos sociais maiores, assim a escola abre a um horizonte social e civil mais completo.

77.     O ambiente educativo Sagrada Família é caracterizado por um clima familiar e por um caráter fraterno que permite às crianças e aos meninos de experimentarem a solidariedade da família humana e os ajuda a exprimir com serenidade e liberdade as suas potencialidades.

 

A segunda criação

78.     “Observai então ao empenho e ao entusiasmo que deveis possuir. Trata-se antes de mais nada de dar às vossas…-diria se não acorro em erros- Filhas uma segunda criação. Irmãs Caríssimas, vejam a importância da nossa missão?, possais conhecê-la e relevar toda sua importância, onde cumpri-la, com generosidade, com amor e com constância”.

79.     A afirmação surpreendente, julgada pela própria Fundadora quase blasfema, da educação como segunda criação, esconde em si significados ocultos de grandíssima importância. A assimilação das ações do educador ao gesto criador de Deus evoca antes de mais nada a extrema importância de cada gesto que o educador propõe. Como Deus doa a vida ao homem insuflando em suas narinas um hálito de vida assim o educador “re-doa a vida insuflando no coração do aluno um hálito, um sentido de vida. Neste meigo gesto existe, segundo a Fundadora, toda a eficácia de toda ação educativa.

 

Algumas virtudes características

 

80.     A laboriosidade, a dedicação ao trabalho, a honestidade, a sinceridade e a solidariedade são só algumas das virtudes que a fundadora indica como essenciais na educação.

81.     O educador da Sagrada Família, portanto, se põe generosamente à serviço das crianças e das suas famílias a sua competência profissional, o seu tempo e as suas energias físicas e espirituais compreendendo o trabalho de educador e de ensinar como uma vocação e não um mero trabalho.

 

  

C. Evangelizar educando

.C.        

EVANGELIZAR EDUCANDO

 

 

Evangelho e educação

47.     A educação, para o religioso da Sagrada Família, é a forma mais própria de viver e testemunhar o Evangelho. Através dela ele anuncia que a realização mais perfeita do homem consiste em configurar-se ao homem perfeito que é o próprio Cristo.

48.     “Cristo que è o novo Adão, justamente ao revelar o mistério do Pai e do seu amor revela também plenamente o homem ao homem e lhe da a conhecer a sua altíssima vocação. Jesus trabalhou com mãos de homem, pensou com mente de homem, agiu com vontade de homem, amou com um coração de homem. Nascendo da Virgem Maria, ele se fez verdadeiramente um de nós em tudo semelhante, menos o pecado”.

49.     Os religiosos da Sagrada Família, fiéis ao convite da sua fundadora de “estudar Jesus”, se esforçam em fazer própria a forma humana de viver de Jesus Cristo, renunciando a si mesmos e assumindo a cruz como modo de amar os outros até o fim, imitando seus próprios sentimentos e o seu estilo educativo. Isso significa ser capazes de aludir a Cristo com a palavra e o testemunho de vida, de abrir para compreensão do mistério, de fazer perceber a vida como uma vocação.

50.     O modo de educar de Jesus assume traços normativos por cada cristão e mais ainda para um educador Sagrada Família: a sua perfeita coerência entre palavra e ação, o seu testemunhar através dos gestos, da abertura indiscriminada diante de cada homem, o cuidado pelos pequenos e pobres, a linguagem das parábolas.

51.       Este estilo comunicativo relacional de Jesus, as parábolas, é o mesmo que tomou conta da nossa fundadora, porque o uso das imagens claras e concretas facilmente imprime-se no coração das pessoas simples a respeito, então, ela frisava: “para inculcar os seus preceitos, Jesus, escolheu a parábola que de rapidamente imprime-se no espírito do povo”.

 

A educação da pessoa

52.     O fim de cada ação educativa do educador Sagrada Família é a educação da pessoa na sua integridade. Por pessoa entendemos o sujeito, que “tem fome e sede do ser” e este empenhado na “conquista da liberdade”. Por educação integral entendemos a promoção de todas as potencialidades humanas: físicas, emotivas, cognitivas, sociais, espirituais e religiosas.

53.     “A dignidade do homem exige que ele possa agir de acordo com uma opção consciente e livre, movido e levado por convicção pessoal, e não por força de um impulso interno cego ou debaixo de mera coação externa. Mas esta dignidade, o homem a consegue quando, liberado de todo cativeiro das paixões, caminha para o seu fim pela escolha livre do bem, e procura eficazmente os meios aptos com sua diligente aplicação. Esta ordenação a Deus da liberdade do homem, ferida pelo pecado, não pode tornar-la plenamente ativa se não através o auxilio da graça de Deus”. GS 17.

54.     Nenhuma condição humana,  tal como pobreza, raça, religião, deficiência, doença ou outra, diminui ou reduz a dignidade de uma pessoa, pelo contrário, o estado de necessidade interpela de modo ainda mais audaz  a manifestação de uma proximidade humana

55.     A tarefa do educador Sagrada Família é testemunhar, com o perfil específico da cultura antropológica cristã, que o bem-estar psicofísico e espiritual de cada pessoa está na oportunidade de crescer o mais serenamente possível numa família e/ou num lugar educativo que se coloca ao lado dela para sustentá-la, iluminar e socorrer seu esforço formativo, porque este é o contexto mais idôneo para cada homem experimentar  o amor e ser habilitado para se exprimir através de uma doação de amor.

56.     A educação da pessoa tem no amor o seu meio e o seu fim.

 

A laicidade e o Evangelho

57.     O serviço educativo oferecido pelos centros educativos e pela escolas da Sagrada Família tem um profundo caráter leigo. Enquanto guarda a inspiração cristã do seu empenho educativo, não se exime de cultivar a abertura “à universalidade  e ao mistério” de cada pessoa.

58.     A verdadeira laicidade manifesta-se em prestar socorro aos outros, todos, sem possuí-los, catalogá-los, usá-los. A Cerioli, Fundadora da Congregação da Sagrada Família, exprimiu na concretude de seu testemunho este tipo de laicidade. Inspirando-se ao mistério da Santa Família de Jesus Maria e José, lutou corajosamente para socorrer, para afirmar a  igual dignidade de cada criatura indiferentemente da própria origem (todos filhos do mesmo Pai), para ir aos últimos sem futuro, para aprender a escutar deles o valor e o sentido do aspecto da solidariedade da existência humana.

59.     Em nome desta laicidade cada situação gerenciada pela Sagrada Família acolhe indistintamente a todos, independentemente de religião, pertença social ou política, e de condição econômica. 

 

 

  

 

E. Unidos na missão

.E.      

RELIGIOSOS, RELIGIOSAS E LEIGOS, UNIDOS

          NA MISSÃO, NA IGREJA E NO MUNDO

 
82.     O religioso Sagrada Família sabe que a sua obra de evangelização não tem um caráter pessoal, mas comunitário. Em particular a sua herança carismática e as condições atuais o levam a ver os co-irmãos na comunidade, as irmãs da Sagrada Família e os leigos como “colaboradores” indispensáveis para a expressão plena de seu testemunho e de seu apostolado.
83.     O religioso da Sagrada Família vê nos leigos os destinatários da vocação comum à santidade. Acredita que o carisma Sagrada Família doado primeiramente à Igreja é oferecido também a eles pare se tornar um instrumento potente para se viver a fé e exprimir um serviço aos outros na Igreja e no mundo. Esta atenção é inspirada por motivações internas à vocação religiosa e não por necessidades momentâneas de ajuda prática.
 
Animados pelo mesmo Espírito: um só Corpo e um só povo
84.     As raízes de uma renovada colaboração com os leigos se encontram na mesma comunhão missionária. Juntos, religiosos e leigos, são incitados para assumir, pelo batismo comum, o chamado à missão.
85.     Inspirados pelo mesmo Espírito de Deus, cristãos e pessoas que professam outros credos, estão unidos a valores comuns fundamentais, sejam antropológicos sejam educacionais: o respeito à dignidade de todo ser humano, a honestidade, a solidariedade, a paz e o sentido do transcendente. Juntos dão o melhor para oferecer às crianças, aos meninos e aos jovens sob nossa responsabilidade os meios para desenvolverem plenamente as suas potencialidades humanas, inclusive o crescimento na fé e a participação responsável à vida da sociedade civil.
 
Uma responsabilidade participada
86.     A responsabilidade pelas atividades educacionais, mesmo referindo-se a pessoas específicas com cargos bem determinados, é sempre e somente obra de uma comunidade educativa.
87.     O modelo desta comunidade educativa é a família, em particular a Família de Jesus, Maria e José. As características desta comunidade são: a humildade, o espírito de serviço, a correção fraterna, a laboriosidade alegre, a edificação do outro.
88.     A partilha da responsabilidade com os leigos leva estes últimos a assumir tarefas de responsabilidade dentro das atividades direto ou indiretamente assumidas pela Congregação religiosa. O espírito de colaboração e a co-responsabilidade que distingue as atividades educativas Sagrada Família, são um precioso testemunho educativo para as crianças e os jovens.