Reflexão
No domingo passado a liturgia nos apresentou a vocação de dois discípulos de Jesus; neste domingo nos são apresentadas as vocações de Jonas (2ˆ leitura) e aquelas de outros quatro discípulos de Jesus (Evangelho). Porque no começo do ano litúrgico esta insistência sobre a “vocação”? Porque propor um trecho do Evangelho que começa com estas palavras: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15)? Na verdade a liturgia não quer assustar ninguém, mas com palavras que podem parecer um pouco “fortes” está-nos anunciando: “Vou te dar uma notícia grandiosa! Jesus está chamando você! Ele deseja tornar-se seu companheiro de caminhada! Não se pode perder tempo porque Jesus é aquela oportunidade que o seu coração estava esperando!”. Para nos ajudar a liturgia nos conta alguns exemplos de pessoas que ouvindo esta “chamada” e respondendo, viram a vida deles “transformada”, “transfigurada”. Tudo isso no começo do ano porque antes se “planeja” o caminho e depois se começa a andar. A primeira leitura narra a história de Jonas: este livro é caracterizado pelo dinamismo “chamada-recusa-2ˆchamada-resposta afirmativa”. Quando Deus me chamou (pela primeira vez) eu também “fugi longe” como Jonas (Jn 1,3), agarrando-me ás minhas (falsas) seguranças (trabalho, balada, roupas de grife), achando que tudo isso era bastante para “ficar feliz”. Como Jonas eu também “dormia a sono solto” (Jn 1,5c), mas não conseguia esquecer-me daquela voz que como escreveu Santo Agostinho “rompeu a minha surdez”. Entre a primeira e a segunda chamada, Deus deixa o tempo para “raciocinar” sobre o que aconteceu e mais você pensa nisso, mais você compreende que a coisa melhor é responder sim; é como se tudo o seu ser “empurre” para aquela direção porque reconheceu a voz do criador. E Deus chamou de novo (Jn 3,1)... Esta vez como Jonas me pus a caminho (Jn 3,3a) e mais andava para frente, mais a alegria, a satisfação, a realização cresciam. Contei em breve a minha história para que vocês possam entender que Deus é a melhor coisa que possa “acontecer” na vida da gente e digo isso por experiência (quotidiana) pessoal. Por isso Paulo, na segunda leitura, usa palavras “duras” (viver como se não tivesse mulher, como se não chorasse, como se não estivesse alegre, como se não possuísse coisa alguma, como se não estivesse gozando do mundo), para dizer que Deus não é algo que pode ser deixado “no escanteio” e “retomado” depois de alguns anos quando a gente tem algum problema. Aquele Deus que te amou “antes que você fosse dado á luz” (Jr 1,5), que te diz “você é precioso para mim, é digno de estima e eu o amo” (Is 43,4), que criou tudo o que existe (Gn 1-2), que ressuscita os mortos (Jo 11), que liberta o homem de toda escravidão (Mt 4,23-24), aquele Deus cujo rosto de Pai misericordioso Jesus veio nos revelar, que “escuta” sempre o coração humano para saber quando o homem lhe dirá o seu “sim”, aquele Deus cuja Bíblia, desde a primeira até a última pagina, diz que deseja além de qualquer outra coisa ficar ao lado do homem, aquele Deus cuja gloria é o homem vivente (num sentido totalizante), está te dizendo: “Deixa-me entrar na tua vida, no teu coração, só quero fazer da tua existência uma coisa maravilhosa; começamos a andar juntos, a fazer tudo juntos para você descobrir o sentido mais profundo das coisas”. No Evangelho deste domingo Simão, André, Tiago e João responderam afirmativamente demonstrando-nos que viver junto com Ele é possível, é maravilhoso, ás vezes “complicado”, mas é a experiência que faz exclamar: “Vale a pena viver!”. Eles nos dão a prova que deixar tudo por seguir a Deus (Mc 1,18.20), não significa perder alguma coisa, mas ganhar tudo. Isto não significa que amanhã todo o mundo deve deixar pais, casa e entrar no primeiro seminário que encontra; a nossa fundadora, Santa Paula Elisabete Cerioli, disse: “Deus não quer todo o bem praticado por todos, mas cada um deve viver segundo a sua vocação e realizar o bem a quem Ele o destina”. Só precisa de um pouco de coragem para fazer o primeiro passo depois será Deus que nos carregará “sobre asas de águia” (Ex 19,4). Tenho certeza que naquele momento o seu coração exultará de uma “alegria extraordinária” (1Pd 1,8), por ter encontrado “aquela” água que se tornará dentro de você “uma fonte de água que jorra para a vida eterna” (Jo 4,14). Deus está esperando de braços abertos o seu sim...