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Evangelho - Mc 1,12-15
Naquele tempo:
12O Espírito levou Jesus para o deserto.
13E ele ficou no deserto durante quarenta dias,
e ali foi tentado por Satanás.
Vivia entre os animais selvagens, e os anjos o serviam.
14Depois que João Batista foi preso,
Jesus foi para a Galiléia,
pregando o Evangelho de Deus e dizendo:
15'O tempo já se completou
e o Reino de Deus está próximo.
Convertei-vos e crede no Evangelho!'
Palavra da Salvação.
 
 
Reflexão
 
Neste primeiro domingo de Quaresma, a “palavra-chave” não é o jejum, a esmola ou a oração: tudo isso não aparece nas leituras. A liturgia nos convida a fazer um percurso diferente. Na primeira leitura (Gn 9,8-15), tem uma palavra repetida por 5 vezes: aliança (v.9.11.12.13.15). “Eis que vou estabelecer minha aliança convosco e com vossa descendência, com todos os seres vivos que estão convosco aves, animais domésticos e selvagens, enfim, com todos os animais da terra [...]” (Gn 9,9-10). Toda criatura é destinatária de uma aliança; “destinatária” porque a iniciativa é de Deus: “... vou estabelecer minha aliança...”. Deus se compromete com as próprias criaturas: Ele as protegerá para sempre (v.12: “por todas as gerações futuras”). Deus é amor e o movimento natural do amor é sair de si mesmo para ir em direção do outro; Ele não consegue ficar longe das suas criaturas e lhes oferece uma aliança eterna de amor. Eis o fundamento para bem entender o tempo precioso da Quaresma: somos criaturas amadas e a aliança é a prova concreta do amor de Deus para conosco. Entre esta aliança com Noé (que simboliza a humanidade) e nós passaram milhares de anos e a segunda leitura nos conta o último ato da fidelidade de Deus á sua aliança: Jesus Cristo. “Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo, pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus” (1Pd 3,18), porque “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). A fidelidade de Deus não conhece limites e Ele fica fiel até as extremas consequências (“Aquele que nem mesmo o seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? -Rm 8,32-), porque o amor de Deus é mais forte do que a própria morte (“nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” -Rm 8,38-39-). Deus estabeleceu esta aliança também com você querido/a amigo/a, você também é protegido/a por Deus, por você também Jesus se entregou a morte porque para Deus nada é mais importante do que amar-te. A Quaresma, portanto, não é um tempo triste que deve ser vivido “fechando a cara” onde a única coisa permitida é um rigoroso jejum, mas é um dom que nos é concedido para (re)descobrir a beleza do amor de Deus. Os próximos 40 dias (até a Páscoa), são o momento para experimentar mais intimamente a aliança Deus-criatura e mais se abre o coração, mais se acende o “fogo” do amor de Deus em nós. Tudo isso é uma “revira-volta” porque o sentido da palavra “sacrifício” muda totalmente: não é algo que devo fazer porque chegou a Quaresma, mas é uma maneira para “desligar” o mundo e “ligar” o espírito. As palavras de Jesus no Evangelho (“O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho” –Mc 1,15-), não são o anúncio do fim do mundo, mas são figura da ternura de Deus que chega até nós para nos lembrar que Deus, com seu amor, já está aqui no meio de nós: Deus está esperando a sua resposta. O meu professor de teologia fundamental dizia: “Um encontro que decide a vida e você descobre que a sua vida é bem-sucedida se você responde”. Precisa porém “ficar espertos” porque no começo do Evangelho aparece “alguém” que não quer que a Quaresma se torne “o lugar” do encontro entre Deus e a criatura, mas que a criatura se separe do próprio Criador. Por isso poderá acontecer ao longo destes 40 dias de ser tentados através destes pensamentos: “Você viveu até hoje desse jeito, não precisa mudar; 40 dias é um período muito cumprido, não vale a pena começar”. As eventuais dificuldades não são nada se comparadas com a alegria do dia de Páscoa, porque quem se encontrou com o Ressuscitado não é mais o mesmo/a. Seria bom se ao longo desta primeira semana, pudéssemos ler pelo menos uma vez o salmo deste domingo, porque tenho a certeza que seria uma grande ajuda para abrir o coração e para entrar na maravilhosa atmosfera do tempo da Quaresma. Uma boa caminhada para todos...