logo 128

I quaresma CEvangelho - Lc 4,1-13
 
Naquele tempo:
1Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão,
e, no deserto, ele era guiado pelo Espírito.
2Ali foi tentado pelo diabo durante quarenta dias.
Não comeu nada naqueles dias
e depois disso, sentiu fome.
3O diabo disse, então, a Jesus:
'Se és Filho de Deus, 
manda que esta pedra se mude em pão.'
4Jesus respondeu: 'A Escritura diz:
'Não só de pão vive o homem'.'
5O diabo levou Jesus para o alto,
mostrou-lhe por um instante todos os reinos do mundo
6e lhe disse:
'Eu te darei todo este poder e toda a sua glória,
porque tudo isso foi entregue a mim
e posso dá-lo a quem eu quiser.
7Portanto, se te prostrares diante de mim em adoração,
tudo isso será teu.'

8Jesus respondeu: 'A Escritura diz:
'Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás'.'
9Depois o diabo levou Jesus a Jerusalém,
colocou-o sobre a parte mais alta do Templo,
e lhe disse: 'Se és Filho de Deus,
atira-te daqui abaixo!
10Porque a Escritura diz:
Deus ordenará aos seus anjos a teu respeito,
que te guardem com cuidado!'
11E mais ainda: 'Eles te levarão nas mãos,
para que não tropeces em alguma pedra'.'
12Jesus, porém, respondeu: 'A Escritura diz:
'Não tentarás o Senhor teu Deus'.'
13Terminada toda a tentação,
o diabo afastou-se de Jesus,
para retornar no tempo oportuno.
Reflexão
 
Começa o tempo “forte” da Quaresma e com isso começa também uma nova etapa da nossa caminhada cristã. As primeiras palavras de Jesus, segundo o evangelista Marcos, foram: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e credes no Evangelho” (Mc 1,15), portanto a vida toda é um pôr-se á caminho porque o arrependimento do coração é um processo que nunca acaba. Se o Natal é o tempo da alegria e da festa pelo “dom” (Jesus) que recebemos e o Tempo Comum é a oportunidade para deixar que aquele “dom” transforme o dia-a-dia, a Quaresma é o momento favorável para tomar consciência do próprio caminho de fé. No versículo mencionado acima o verbo arrependei-vos traduz o grego μετανοεῖτε e quando o Concílio Vaticano II reformou o sacramento da confissão, na introdução do ritual traduziu aquele verbo com a palavra paenitentia, ou seja, conversão do coração (“O discípulo de Cristo que, depois do pecado, movido pelo Espírito Santo, se aproxima do sacramento da Penitência deve, antes de mais, converter-se a Deus de todo o coração”, Ritual n.6), que explica muito bem o significado do verbo grego. Portanto a Quaresma é o momento propício para se converter. Onde começa a conversão? Ela não começa com a fustigação ou com jejuns terríveis, mas como nos sugere a primeira leitura (Dt 26,4-10), começa fazendo lembrança das próprias origens. Moisés lembrando os acontecimentos passados ao povo de Israel está lembrando-lhe a sua identidade: um povo amado pelo Senhor que recebeu d’Ele salvação, proteção, vida, amor, fidelidade e uma aliança. Vamos atualizar tudo isso: cada um de nós é amado pelo Senhor e recebeu d’Ele vida, amor, uma terra para viver... A coisa mais linda é olhar para o passado e tomar consciência de como tudo isso se desenvolveu numa maneira única na vida de cada um de nós, descobrindo que ali está conteúda a nossa identidade: criaturas amadas por Deus que são chamadas a viver uma aliança de amor com Ele. Vamos nos perguntar: como estou vivendo a minha aliança com Deus? A segunda leitura (Rm 10,8-13) nos sugere um trilho para alcançar a resposta afirmando que Deus e a Sua Palavra estão perto de nós, na nossa boca e no nosso coração. Essa Palavra, como diz o Salmo desse domingo (Sl 90), conta de uma presença que está ao lado do homem protegendo-o, livrando-o e ficando com ele nas dores. A conversão não é somente afirmar o próprio pecado, mas é primariamente olhar para a própria identidade e descobrir se estamos enriquecendo-a ou desfigurando-a. O Evangelho, através das tentações de Jesus, nos lembra que a possibilidade de desfigurar a nossa identidade é sempre presente na nossa vida: esquecendo-se que a dimensão espiritual é constitutiva da pessoa humana (primeira tentação v.3-4); enganando-se que a glória humana e o poder possam satisfazer as aspirações do nosso coração (segunda tentação v.5-8); considerar Deus como um “tampão” (terceira tentação v.9-12). Jesus também foi tentado de desfigurar a própria identidade pelo diabo, mas ficou firme porque o caminho rumo á cruz era a coisa mais importante, a prioridade fundamental. Deus tem sede da nossa fé, uma fé que nasce da liberdade, ou seja, o amor livre e a Quaresma é a oportunidade para lembrá-lo olhando para a nossa identidade. Uma boa caminhada quaresmal a todos.