O Evangelho de João tem nos acompanhado nesta parte do tempo pascal. Recentemente iniciamos a leitura da grande seção chamada de textos de despedida, compreendendo os capítulos 13 a 17. De maneira mais específica nos capítulos de 15 a 17 encontramos vários ensinamentos de Jesus juntados pelo evangelista e que os coloca num contexto amigável e fraterno do último encontro de Jesus com os seus discípulos: Jo 15,1-17: Reflexões em torno da parábola da videira, Jo 15,18-16,4: Dicas sobre como se comportar quando somos perseguidos, Jo 16,4 b-15: Promessa da vinda do Espírito Santo, Jo 16,16-33: Reflexões sobre a volta de Jesus, João 17,1-26: O Testamento de Jesus em forma de oração
Os evangelhos de hoje e amanhã são uma parte da reflexão de Jesus sobre a parábola da videira. Para entender a finalidade desta parábola seria interessante estudar bem as palavras usadas por Jesus e também observar de perto uma videira ou qualquer outra planta para ver como cresce e como acontece a ligação entre o tronco e os ramos e como o fruto nasce do tronco e galhos.
Nos versículos 1 e 2 Jesus apresenta a comparação da videira. No Antigo Testamento, a imagem da videira indicava o povo de Israel (Isaías 5, 1-2). As pessoas eram como uma videira que Deus plantou com muita ternura nas colinas da Palestina (Sl 80,9-12). Mas a videira não corresponde ao que Deus espera. Em vez de boas uvas produz um fruto azedo, que não serve pra nada (Isaías 5, 3-4 ). Jesus é a nova videira, a verdadeira videira. "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Toda ramo que não der fruto em mim, ele o cortará e podará todo o que der fruto, para que produza mais fruto ainda". A poda é dolorosa, mas necessária. Ela purifica a videira, assim cresce e dá mais frutos.
Nos versículos de 3 a 6 há uma explicação e aplicação da parábola: Os discípulos já estão purificados. Já foram podadas pela palavra que ouviram de Jesus. Até agora, Deus realiza a poda em nós mediante sua Palavra que nos chega da Bíblia e por muitos outros meios. Jesus estende a parábola e disse: "Eu sou a videira, vós os ramos". Não se trata de duas coisas distintas: por um lado, a videira, de outro os ramos. A videira não existe sem os ramos. Somos parte de Jesus. Jesus é tudo. Para um ramo poder dar fruto deve estar unido à videira. Só então poderá receber a seiva. "Sem mim nada podeis fazer! O ramo que não dá fruto é cortado, seca-se e está pronto para ser queimado. Não serve pra mais nada, nem mesmo como lenha".
Nos versículos finais temos a dimensão da permanência: permanecer no amor. Nosso modelo é aquele que o próprio Jesus viveu na sua relação com o Pai. Ele diz: "Como o Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor." Ele insiste em dizer que permaneçamos nele, e que suas palavras devem permanecer em nós. E ele mesmo diz: "Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e vos será dado! Porque o que o Pai quer é que nos tornemos discípulos de Jesus que produzamos fruto".
A imagem da união dos ramos à videira nos ajuda a celebrar o que desde o último capítulo estamos falando: a familiaridade, a vida fraterna em comum, o sentido de pertença. Sem a prerrogativa da pertença à família religiosa ficamos impotentes, ficamos sufocados, sem a seiva necessária para nossa vida religiosa.
Concluo retomando um trecho da antologia de textos sobre a vida fraterna em comunidade do Pe. Gianmarco, a carta da Fundadora à Irmã Rosa, de 2 de novembro de 1865:
"Por enquanto estejamos unidas no Senhor com os três divinos personagens da querida Sagrada Família, para que possam nos doar seu espírito de humildade, de aceitação, de vida escondida. Com todos estes princípios e com estas virtudes as nossas casas serão casas de tranqüilidade, de Deus, mas depende muito da Superiora formá-las assim".